Fluxo Soluções
 / janeiro 2012

Ativos Tangíveis e Intangíveis

Definições: Ativos tangíveis da empresa são os bens de propriedade da empresa que são concretos, que podem ser tocados. São os imóveis, as máquinas, os estoques, etc. (capital físico e financeiro).

Ativos intangíveis são as propriedades da empresa que, ao contrário, são difíceis de se ver, de se tocar, mas que se percebe: são suas marcas, a qualidade de sua administração, sua estratégia, sua capacidade de se comunicar com o mercado e com a sociedade, são valores e princípios morais, é a percepção de perenidade que ela transmite, é uma boa governança corporativa, sua capacidade de atrair e reter os melhores talentos, sua capacidade de inovação, seu estoque de conhecimentos, etc.
Não vemos muita “Literatura”  sobre bens intangíveis atualmente. Mas ninguém duvida que eles  são tão ou mais importantes que os tangíveis. O conceito dos intangíveis está ligado àqueles que têm um negócio para durar. As gestões que cobram resultados rápidos, possivelmente não estão dando a importância devida aos intangíveis.

Valor das empresas: O valor de mercado de uma empresa é um múltiplo do preço da ação pelo número de ações. Valor da empresa é o valor que o mercado está ou estaria disposto a pagar para adquirir a empresa. Para aquelas não listadas em bolsa, costuma-se estimar seu valor como sendo um múltiplo de seu EBITDA (fluxo de caixa operacional) menos a dívida.

Valor das empresas e seus intangíveis: No passado, o valor das empresas era muito próximo do valor de seus ativos tangíveis, isto é, avaliava-se a empresa medindo o valor de suas fábricas e seus estoques, pelo valor de reposição de seus ativos fixos. Quarenta anos atrás, o valor de uma empresa era o valor de seus ativos mais um prêmio que raramente passava dos 10%, isto é, o valor da empresa era constituído  90% pelo valor de seus ativos tangíveis e apenas 10% por seus intangíveis. Hoje, o valor das 500 empresas do S&P 500 (500 principais empresas de capital aberto do mundo) é constituído, em média, por apenas 20% de ativos tangíveis e 80% de intangíveis.

É por isto que vemos, hoje em dia, variações incríveis no preço das ações e podemos ter, como tivemos recentemente, valores que se degradaram fortemente - vimos preços de ações caindo, às vezes, para um décimo do que valiam. Uma empresa que é pega numa mentira pode ver todo o seu valor intangível virar poeira. A administração de uma empresa pode criar muito valor intangível, mas pode também destruí-lo muito rapidamente, donde a importância das boas normas de governança corporativa, e, também, que a empresa seja e apareça como uma empresa responsável. A integridade é condição “sine qua non” para o executivo  que quiser desenvolver capital intelectual. Íntegro com ele mesmo, com os outros, com a humanidade.

Esta realidade não é, evidentemente, válida só para os EUA. Na data que estou escrevendo estas notas, a Natura, empresa líder no mercado brasileiro de cosméticos, tem um valor de mercado de 3,5 bilhões de US$. Mais de 90% deste valor são de intangíveis. Somente em 1,5 ano, desde sua abertura de capital, a empresa criou 2,3 bi de US$ de valor, tendo investido em Capex e capital de giro operacional, isto é, em tangíveis, menos de 100 milhões de US$. O mercado valoriza, e muito, as crenças da empresa de que se pode fazer negócios sem destruir a natureza e de progredir de forma sustentável,  buscando construir um mundo melhor. O mercado acredita que os propósitos dos administradores são sinceros e constantes e que os consumidores sabem cada vez mais reconhecer e premiar estes princípios. É por isto que a marca “Natura”  é uma das três mais valiosas do mercado brasileiro.

Formação dos administradores de empresas: Gostaria de encerrar meus comentários falando da inadequada formação acadêmica neste tema. Com efeito, quando me formei em engenharia, há 44 anos, fui instruído  para lidar apenas com ativos tangíveis, o que era absolutamente normal naquela época. O que não é normal é que as escolas de engenharia, de administração e de economia continuem a formar os futuros executivos quase do mesmo jeito! Somos assim, todos autodidatas na gestão  do maior  valor de nossas empresas. Os currículos destas escolas precisam ser revistos para se adequarem à nova realidade.

Edson Vaz Musa é ex-presidente da Rhodia do Brasil e atual presidente do conselho da Caloi. Foi eleito por cinco vezes um dos dez empresários mais importantes do país. Participa do conselho das empresas Natura, WEG, J. Macedo e de várias outras empresas sem fins lucrativos.

Outras Publicações