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 / março 2013

GNL: solução estratégica para a demanda flexível do setor elétrico brasileiro

A matriz do setor elétrico brasileiro é composta principalmente por usinas hidrelétricas que representam, aproximadamente, 80% da capacidade instalada de produção de eletricidade. Sempre que necessário, o Operador Nacional do Sistema (ONS) determina o despacho termelétrico em caráter complementar, visando a manutenção do nível seguro de água dos reservatórios das usinas hidrelétricas.

Essa característica do sistema elétrico brasileiro trouxe um desafio novo para a Petrobras: encontrar uma opção flexível de suprimento de gás natural que permita o atendimento ao segmento termelétrico de acordo com sua demanda sazonal e incerta. Assim, surgiu o GNL como alternativa eficiente para responder a essa especificidade da matriz brasileira, uma vez que seu suprimento pode ser modulado de acordo com a demanda.

Projeto GNL Petrobras

A Petrobras ingressou, em 2009, no mercado internacional de Gás Natural Liquefeito (GNL) com a implantação de dois terminais de regaseificação de GNL, um em Pecém-CE e outro na Baía de Guanabara-RJ, com capacidade de regaseificação de 7 milhões de m³/dia e 20  milhões de m³/dia,  respectivamente, com investimento total de R$ 1,25 bilhão.

Esses empreendimentos foram resultado de um projeto inédito e de fundamental importância para flexibilizar a oferta e diversificar as fontes de suprimento de gás natural no Brasil. A introdução deles no país visou, principalmente, atender a demanda das usinas termelétricas para geração de energia elétrica.

Ao invés de optar por um terminal onshore - como é comum na maioria dos países consumidores de GNL - a Petrobras desenvolveu um modelo inovador pelo qual a regaseificação é feita a bordo de um navio metaneiro, adaptado para ser capaz de armazenar e regaseificar o produto. O abastecimento desse navio, chamado regaseificador, é feito por meio de braços fixos no terminal e de um sistema de tubulações e válvulas, todos criogênicos – capazes de resistir 162º C negativos. Esses equipamentos transferem o gás na forma líquida de um navio supridor para o navio regaseificador, onde é feita a transformação do GNL para o estado gasoso. Depois da regaseificação, é injetado no gasoduto com as características especificadas para ser entregue ao mercado consumidor. Cada terminal tem seis braços de transferência de GNL e dois braços de transferência de gás natural comprimido (GNC), assim como um vaso de purga (knock-out drum – KOD).

Também é inédito o modelo de regaseificação em que os navios - supridor e regaseificador - ficam atracados em um terminal dotado de equipamentos como os citados anteriormente para fazer a transferência do GNL entre eles. O Brasil também foi o primeiro a usar navios metaneiros existentes adaptados para armazenar e regaseificar GNL.

Ao optar pelo transbordo de GNL por meio de braços criogênicos e de gás natural por meio de braços de GNC, a Petrobras buscou atender aos requisitos internacionais da indústria de GNL. Os terminais da Baía de Guanabara e de Pecém têm as especificações para que 85% da frota mundial de metaneiros possam atracar em suas instalações. Outro ponto favorável ao modelo desenvolvido no Brasil é a versatilidade que a solução oferece, uma vez que os navios regaseificadores podem ser deslocados entre os terminais e levados a outros países.

Por suas características inovadoras e potencial de replicação global, os terminais de Pecém e da Baía de Guanabara estão entre os 100 principais projetos de infraestrutura do mundo, segundo levantamento apresentado em 2010 pela empresa de consultoria KPMG em conjunto com o Infrastructure Journal, serviço inglês sobre infraestrutura global e financiamento de projetos.

Gustavo Mussel Barros é Gerente de Ativos de GNL e a gerência é GE-GQL/PAGNL/AGNL.

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