Educação e Inovação abrem caminho para competitividade
O desempenho da indústria em 2012 não foi nada animador. Indicadores como horas trabalhadas na produção, a utilização da capacidade instalada e o emprego mostram que a expectativa de crescimento econômico que havia no início do ano foi frustrada. Para reverter esses resultados no curto prazo e garantir a sustentabilidade do crescimento no longo prazo, o Brasil precisa se tornar mais competitivo. E só conseguirá isso se enfrentar desafios nas áreas de inovação e educação.
A Pesquisa de Competitividade 2012, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), situa o Brasil em posição intermediária no quesito tecnologia e inovação. É o 7º colocado entre 13 países com características econômico-sociais e posição na economia mundial semelhantes. Especificamente, sobre atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação nas empresas, o Brasil cai para 8º lugar no ranking, atrás de países como Rússia, Índia e Coreia do Sul. Isso aponta que o empresariado ainda tem dificuldade de apostar em inovação como algo central, seja por problemas culturais seja por dificuldades de incentivo.
No quesito educação, avançamos na universalização, mas ainda estamos progredindo lentamente na qualidade. Se seguir o ritmo atual, somente em 2021, o Brasil terá a proficiência e o rendimento médio dos alunos do ensino fundamental que os países desenvolvidos tinham em 2007. Sobre quem já está no mercado, os números não são nada animadores: 21% dos trabalhadores da indústria não têm sequer o ensino fundamental completo. Os que têm ensino médio completo são pouco mais da metade (54%).
Se não mudarmos esse quadro tanto na educação como na inovação, teremos poucas chances de alcançar um patamar de competitividade aceitável. Uma nova situação só virá se o Brasil modificar, urgentemente, sua matriz educacional, preparando seus recursos humanos, inclusive no ensino técnico, e incluir a inovação nas suas políticas para o crescimento.
Do ponto de vista da inovação, o Plano Inova Empresa, anunciado pela presidente Dilma Rousseff no dia 14 de março, representa um avanço importante para o país. Estão previstos R$ 32,9 bilhões em recursos para o financiamento de projetos e a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Aliada às respostas do setor privado, o Brasil tem a chance de dar um salto qualitativo na sua inserção mundial.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) vai dar contribuições importantes para o Brasil avançar no rumo da competitividade. O Programa de Apoio à Competitividade da Indústria Brasileira começou a executar um vasto projeto de inovação e qualificação profissional. Os recursos são vultosos: R$ 1,5 bilhão de financiamento do BNDES e mais R$ 400 milhões de recursos próprios.
O programa vai instalar uma rede de Institutos de Inovação e de Tecnologia que irá reconfigurar a educação técnica e a inovação no país. Vinte e três Institutos SENAI de Inovação formarão profissionais de nível superior alinhados às necessidades do setor produtivo. O objetivo é gerar conhecimento para áreas-chave, como microeletrônica, engenharia de superfície e tecnologia da comunicação e informação, para mencionar somente três. Os alunos, focados em pesquisa aplicada, serão estimulados a trabalhar na antecipação de tendências tecnológicas.
Essa rede de inovação vai operar de forma integrada com 61 Institutos de Tecnologia, que, além de manter cursos de educação profissional, inclusive de nível superior, oferecerão às empresas serviços em cadeia e testes laboratoriais, muitos dos quais feitos hoje no exterior.
Os dois pilares do SENAI, os Institutos de Inovação e de Tecnologia, se juntarão ao reforço de novas 81 unidades móveis e 53 centros de formação profissional. A meta é atingir 4 milhões de matrículas em 2014 – praticamente o dobro das 2,4 milhões registradas em 2011.
Não tenho dúvida de que, com esse enorme esforço, o país vai estar mais bem preparado para enfrentar os desafios permanentes da inovação e da competitividade, firmando-se como um dos atores principais – e não como mero figurante – no protagonismo mundial.
Rafael Lucchesi é economista e diretor-geral do SENAI