Fotossíntese como fonte energética
O álcool é o principal produto renovável para a sustentação da matriz energética mundial. A utilização das reservas mundiais do petróleo em ritmo superior à sua acumulação, define um limite de tempo curto para a sua disponibilidade como fonte de energia, nas proporções em que vem sendo utilizado.
O Brasil está no epicentro de uma revolução energética que envolve todo o planeta. Em 2005, o mercado brasileiro de etanol gerou receita de 6 bilhões de dólares. Em 2010, deve chegar a 15 bilhões. Isso tudo sem contar com a demanda mundial, de qual participam países como os Estados Unidos, o Japão e agora a China, que pretende misturar 10% de etanol em toda a gasolina utilizada no país. A utilização do álcool entre flex, mistura carburante à gasolina e exportação deverá passar de 25 bilhões de litros em quatro anos.
A vantagem competitiva brasileira é fruto da alta produtividade do cultivo. Uma perfeita combinação de clima, extensão territorial e reservas de água permitem que cada hectare de cana plantado no Brasil produza 6,8 mil litros de álcool. Em comparação com os Eua, que produz etanol do milho, o rendimento fica abaixo da metade do brasileiro: 3,2 mil litros.
Além das vantagens naturais, o Brasil já tem experiência na produção de álcool como recurso energético desde a década de 70. Naquela época, a produção do álcool foi incentivada pelo governo, com o objetivo de misturá-lo à gasolina, para reduzir as importações de petróleo. Nascia o Programa Nacional de Álcool, ou Proálcool.
O movimento surgiu da iniciativa de alguns empresários, que desenvolveram um trabalho e o apresentaram ao governo. Fotossíntese como fonte energética, este foi o projeto desenvolvido em 1973 pelas empresas Usina da Barra, Nova América, Santa Elisa e Zanini S.A., lideradas por seus acionistas Maurílio Biagi, Orlando Ometto, Renato Barbosa e Cícero Junqueira Franco, com patrocínio da Associgás. Este projeto foi apresentado ao governo no mesmo ano, e posteriormente encaminhado ao General Araken de Oliveira, em abril de 1974.
A sorte grande para a implementação do Proálcool foi a presença do General Ernesto Geisel na Presidência da República. Ele dominava completamente o assunto, pois tinha vivência com a Petrobras. Sendo assim, apoiado pelo presidente da Petrobras na época Shigeaki Ueki, criou o Proálcool, que começou com a mistura do álcool anidro à gasolina em 1975. Outras lideranças, como o ministro Ângelo Calmon de Sá, participaram dos primeiros projetos do Proálcool implementados pela nossa família: Santa Elisa, Usina da Pedra e Vale do Rosário.
Em 1978, surge o carro a álcool. Oito anos depois, 76% da frota nacional de veículos produzidos era movida a álcool, e a produção alcooleira atingiu um pico de 12,3 bilhões de litros. Porém, neste mesmo ano, alterou-se o cenário internacional do mercado petrolífero. Os preços do óleo bruto despencaram e consequentemente os subsídios para a utilização da energia alternativa ficaram escassos. O preço pago aos produtores de álcool era baixo e a produção se estabilizou, ao contrário da demanda pelo combustível, que chegou a atingir 95% dos carros vendidos no país.
Mesmo com a queda do Proálcool, o etanol, ao lado do biodiesel, ressurgiu no cenário energético como alternativa excelente para o futuro. No caso do álcool, apenas a demanda dos carros Flex irá estimular o aumento da produção.
Hoje, nossa família participa de uma empresa de comercialização de álcool com atividades no Brasil e no exterior, a Crystalsev. Montamos terminais em Santos, tanto de açúcar como de álcool para exportação, e implantamos uma desidratadora de álcool em El Salvador, com a intenção de exportar para os EUA. Estamos também participando da montagem de uma refinaria de açúcar na Síria, que atenderá os países daquela região.
Fizemos um plano de ação até 2020 que visa expansão de álcool para atender a demanda interna e de exportação. São seis novos projetos, e cada um pretende atingir a moagem em torno de cinco milhões de toneladas de cana por safra, em São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul. Em 84 anos de trabalho, as empresas foram totalmente profissionalizadas. Em 2007, esperamos fazer o IPO da Santa Elisa (abertura de capital) que é hoje a principal empresa da família.
Luiz Lacerda Biagi é líder empresarial de diversos segmentos como bens de capital, indústria alimentícia, entre outros. Entretanto, é na indústria sucro-alcooleira que Luiz construiu uma história que começou desde a implementação do Programa Próálcool, em 1974.