Empresa com Espírito
Algumas empresas são respeitadas pela vanguarda em tecnologia. Outras são respeitadas pelo equilíbrio entre o técnico e o humano. Entre estas há aquelas em que o lado humano acontece pelo técnico. Ou seja, todas as tecnologias humanas, são utilizadas com grande eficiência. Estão na vanguarda da “mecânica” do humano, mas não pela sua essência. Há, entretanto, aquelas em que o humano não é algo tecnológico. São empresas com espírito. A essência do humano está lá, viva, pulsante de forma natural, genuína. Uma essência não visível, não tangível, não expressa em sistemas, tecnologias, técnicas... Mas que é sentida pelos colaboradores, pelos fornecedores, pelos clientes. Algo que está no ambiente, no “clima”, na atmosfera da empresa e em tudo que nela se faz, se diz, se pensa até. Pessoas com atitudes construtivas, um interesse genuíno de ser útil, de servir, de contribuir para os clientes e para todos que estarão, direta ou indiretamente, utilizando-se dos produtos e serviços gerados.
Nas organizações com espírito as pessoas são mais que “colegas”, são amigos. Há um clima de camaradagem entre todos, sem qualquer tipo de separação, sem feudos, sem exclusão de quem quer que seja. As pessoas se conhecem profundamente. E, por isso, são capazes de se compreenderem e, assim, relevarem as pequenas diferenças de estilo, de personalidade, no jeito de se comunicar e até demonstrarem, ou não, suas emoções e sentimentos. E é por causa desse nível de compreensão que nessas organizações há, além de um verdadeiro espírito de corpo, excepcionais níveis de motivação coletiva.
Qual é o efeito de tudo isso no desempenho das empresas, nos resultados que elas conseguem? Óbvio? Nem tanto... Porque se assim fosse, teríamos muito mais empresas nesse nível de perfeição como equipe, como grupo de efetivos amigos. Então, o que parece impedir que mais organizações tenham esse tipo de motivação, animação, energia?
Excesso da cultura do técnico que traz frieza aos processos humanos? A premissa de que muita amizade prejudica a lógica que deve prevalecer nos negócios? Estilos de liderança baseados em comando e controle que tendem a abafar a criatividade e a espontaneidade das pessoas? A crença de que a organização de sucesso é aquela que “funciona como uma máquina bem azeitada” e na qual o técnico é tudo...?
Óbvio é falar da importância das pessoas nas organizações. Menos óbvio, mais sutil, menos vezes percebida e praticada, é compreender que o espírito das empresas não está nas pessoas, mas na motivação delas.
Em quantas organizações no país temos pessoas motivadas o tempo todo -e não somente nos dois, três dias que se seguem a um aumento salarial ou ao pagamento de um bônus? Ou seja, em quantas organizações a motivação é sustentável, algo inerente ao seu jeito de ser e não o resultado de “espasmos” gerados por estímulos artificiais?
Esse nível de motivação sustentável só é possível em organizações em que o propósito, sua razão de existir, seja nobre. São organizações em que todos sabem que trabalham para o bem comum, para a sociedade como um todo, que estão construindo um legado para as futuras gerações.
E é essa consciência que faz as pessoas darem o melhor de si gerando excepcionais níveis de qualidade em tudo que fazem. Uma qualidade não mecânica, não somente “da técnica pela técnica”. Mas uma qualidade gerada pelo simples interesse pelo bem estar de quem vai usar o produto ou serviço final.
O que aconteceria em nosso país e no mundo se mais e mais organizações, tanto no setor empresarial, como no governamental e no terceiro setor, TIVESSEM esse tipo de espírito e FIZESSEM o melhor, motivados por propósitos nobres, pela busca do bem comum?
A tecnologia é sempre neutra. O que potencializa seu valor é a intenção que está na base de sua aplicação. O propósito. E é aí que está a essência das organizações com espírito. E da vida de todos nós.
Oscar Motomura