Fluxo Soluções
 / agosto 2018

Dutos: segurança, eficiência e baixo custo operacional para o transporte de minério

O projeto de um mineroduto inicia-se com a solicitação de aprovação pelos órgãos governamentais, principalmente, no âmbito ambiental, além das audiências públicas onde toda a população do entorno da obra é apresentada ao projeto. Apenas após a obtenção da aprovação das autoridades competentes é que a sua construção pode ser iniciada.

Minerodutos são projetados e construídos seguindo as mais restritivas normas internacionais, o que traz uma enorme segurança aos projetos. Neste contexto, os tubos representam uma parte crucial deste meio de transporte e, assim como os demais equipamentos envolvidos, demandam uma atenção especial, desde a sua fabricação, quando diversos testes de performance e qualidade são realizados ainda dentro da indústria. Os testes continuam durante todas as demais fases: de transporte, armazenamento, construção, simulação de operação e comissionamento. Somente após o correto funcionamento de todos os componentes do mineroduto é que se pode iniciar o bombeamento da polpa de minério e, finalmente, após a conclusão do comissionamento com polpa, é que acontece o handover da equipe de implantação para a equipe de operação.

Durante a operação, a integridade é um tema importante, pois garante a sua segurança e também controla o valor monetário do ativo, através dos planos de manutenção. Normalmente, as empresas operadoras possuem uma equipe própria responsável por manter atualizado todo o programa de monitoramento.

A maior prova da eficácia dos minerodutos é o baixo índice de acidentes registrados no Brasil e mundialmente, sendo que, no Brasil, possuímos alguns dos maiores minerodutos do mundo, alguns em operação desde a década de 70, e nenhuma fatalidade foi registrada neste tipo de modal. O risco de operação de dutos é bem inferior aos riscos dos demais meios de transporte, tais como, ferrovia e caminhão.

Você sabia que o custo operacional de um duto pode ser menor que um dólar por tonelada transportada?

Os dutos são uma ótima alternativa para transportar grandes quantidades de produto, com baixo impacto ambiental e visual ao longo da sua rota, pois, sua maior parte fica abaixo do nível do solo.

Existem diversos aspectos que influenciam no custo operacional dos dutos. Sendo possível citar que, o principal insumo para a operação de um duto, seja ele mineroduto ou rejeitoduto, é a energia, seguida das peças de reposição e do custo da mão de obra. Assim como o custo de implantação CapEx, o custo de operação OpEx, também deve ser considerado na escolha do meio de transporte a ser utilizado.

Vale ressaltar que um duto não tem uma demanda expressiva de uso de mão de obra. Um exemplo disso é que a operação de um mineroduto com 500 km de extensão e duas casas de bomba pode ser feita com cerca de 120 profissionais. Isso é relativamente baixo quando comparado aos demais meios de transporte.

Consumo Energético

O consumo energético está diretamente ligado à energia necessária para fazer o fluido se mover de um ponto inicial até um ponto final. Dependendo da topografia do terreno onde é implantado o duto, o transporte pode ser feito por gravidade, ou seja, sem nenhuma demanda de energia, contudo, isto não é muito comum no Brasil.

O consumo de energia de um mineroduto normalmente representa entre 60 e 70% do custo operacional do sistema, portanto, é importante ter um controle adequado deste insumo.

O fornecimento da energia para o transporte do minério no Brasil vem, na maioria das vezes, de fonte renovável, gerada por meio de usinas hidrelétricas, tornando-se uma alternativa mais correta ambientalmente, quando comparada ao uso de energia não-renovável.

Peças de Reposição e Mão de Obra

Em função dos equipamentos utilizados em um mineroduto terem um alto rendimento operacional, o custo com peças sobressalentes é relativamente pequeno, ficando abaixo do normal no setor mineral, algo em torno de 3% do valor do equipamento.

Um fator importante a ser considerado é que, apesar da equipe operacional ser reduzida, ela precisa ser especializada e os técnicos devem ter um ótimo conhecimento de hidráulica e bombas. Os equipamentos em geral são diferenciados e demandam uma mão de obra especializada também para sua manutenção. Assim, se a mão de obra é bem estruturada e a manutenção bem programada, os dutos podem ter um rendimento operacional na ordem de 98%. Atualmente, a maior parte das peças utilizadas já podem ser adquiridas no mercado nacional, não tendo grande demanda para o mercado internacional.

Qual seria o consumo de energia por tonelada transportada por um mineroduto hipotético, saindo do quadrilátero ferrífero em MG para o litoral Sudeste?

A resposta depende de diversos fatores. Levando em consideração uma capacidade de transporte de 20 milhões de toneladas por ano, o consumo de energia representa aproximadamente 0,55 US$ por tonelada transportada.

O custo operacional é um item muito importante na tomada de decisão pelo meio de transporte mais adequado para um produto.

O risco financeiro de escolher um meio de transporte com um custo inicial de implantação relativamente baixo, porém, com um custo de operação elevado, e esta opção, em um mercado de commodities tão volátil como o de hoje, poderá, no futuro, ser muito prejudicial ao empreendimento.

Ter o cuidado de selecionar uma empresa especializada com know how, um bom histórico de projetos executados e cases de sucesso nas três áreas, sem dúvida, é a principal forma de mitigar o risco. Às vezes, uma economia na engenharia que, normalmente, custa cerca de 4 a 5% do valor total de um empreendimento, pode custar mais caro adiante. A escolha de uma empresa não especializada certamente levará a algum erro durante esse processo e o impacto será sentido diretamente no retorno financeiro do projeto. A economia na engenharia não representa um valor significativo no investimento final, porém, uma boa engenharia pode representar um excelente resultado ao modelo econômico-financeiro do projeto.

 

Rafael Lima é engenheiro mecânico e possui cerca de 15 anos de experiência na elaboração de projetos de minerodutos, rejeitodutos, adutoras e dutos para transporte de etanol, de longa e curta distância, participando desde a definição inicial do processo, através do projeto conceitual até a implantação e operação dos dutos, inclusive em projetos internacionais. Como executivo da Ausenco desde 2004, atuou em projetos em diversas indústrias e mineradoras do país: Vale, Bunge, Votorantim, Fosfértil, MVC, Anglo American, Samarco, MBR, entre outras. Atualmente exerce o cargo de Diretor de Pipelines da Ausenco.

 

 

Outras Publicações