Caminhos para a Retomada do Crescimento
A saga da indústria brasileira de petróleo é uma extraordinária história de sucesso. Do seu início na década de 50, marcado por grandes esperanças e muitas dúvidas, a uma posição de vanguarda e liderança no cenário mundial no desenvolvimento de províncias geológicas e tecnologias de águas profundas.
Essa indústria vive hoje a sua mais profunda crise. O colapso dos preços do petróleo, ao fim do último superciclo das commodities, aliado à crise brasileira – política, econômica e ética – formam o que muitos classificam com uma tempestade perfeita que se abateu sobre a nossa vitoriosa indústria do petróleo.
No entanto, uma reflexão sobre os fatores que conduziram o Brasil ao lugar de destaque que já ocupou entre os principais polos de atração de investimentos em exploração e produção – o potencial geológico brasileiro e a capacidade tecnológica local – permitirá concluir que os fundamentos do sucesso da indústria do petróleo brasileira continuam, apesar das atuais circunstâncias, preservados e ainda robustos.
Apenas os recursos já descobertos e a desenvolver no pré-sal brasileiro, hoje da ordem de 45 bilhões de barris, são capazes de promover investimentos que ultrapassam US$ 500 bilhões. Graças à extraordinária produtividade dos seus reservatórios carbonáticos, a província do pré-sal é capaz de remunerar e, portanto, atrair investimentos mesmo num cenário de preços de petróleo deprimidos na faixa de US$ 40-50 por barril. É importante ressaltar que as empresas de petróleo tomam decisões de investimento não com base nos preços de petróleo do dia, mas em projeções de longo prazo, que ainda se situam acima dos preços de petróleo que viabilizam o pré-sal brasileiro.
As conhecidas atuais dificuldades financeiras da Petrobras somadas à maior seletividade e as restrições orçamentárias que o atual cenário de baixos preços do petróleo impõe às empresas privadas, conduzem a uma projeção de investimentos no setor petróleo brasileiro para 2016 da ordem US$ 20 bilhões, meros 4 % dos investimentos globais da indústria do petróleo neste ano, uma cifra claramente incongruente com o potencial petrolífero brasileiro.
Nós no IBP estamos convencidos de que a indústria do petróleo brasileira tem capacidade para multiplicar seu atual nível de investimentos, fazer crescer a oferta de empregos, receitas tributárias, energia, assim oferecer um caminho para a retomada e sustentação do crescimento da economia brasileira. Para tanto não depende de subsídios ou complexas reformas legislativas, apenas alguns aperfeiçoamentos regulatórios e estabilidade fiscal que ampliem sua capacidade de competir por investimentos.
A vida é feita de escolhas. Na COP21, em Paris, 196 países escolheram limitar as emissões de gases de efeito estufa e reduzir as mudanças climáticas, uma escolha que deverá provocar profundo impacto sobre a indústria de energia mundial por sinalizar a antecipação do horizonte de tempo dos combustíveis fósseis.
O Brasil fez no passado escolhas hoje vencidas pela força da atual realidade e, quanto ao futuro, se vê diante de três possíveis cenários. 1) A manutenção do atual modelo regulatório que abate a competitividade brasileira por investimentos e reprime seu potencial de crescimento. 2) Enveredar por caminhos ainda mais danosos, como os que conduzem a imposição das taxas recentemente sancionadas pelo estado do Rio de Janeiro que, além de inconstitucionais, praticamente inviabilizam o futuro da indústria no Brasil. 3) A aceleração do crescimento do setor petróleo através da promoção da diversidade de operadores na província do pré-sal; o aperfeiçoamento da política de conteúdo local; melhor previsibilidade no licenciamento ambiental; maior frequência e regularidade dos leilões de blocos exploratórios.
A indústria do petróleo brasileira tem o potencial e uma agenda para a retomada da competitividade e do crescimento, e, dependendo das nossas escolhas, um futuro ainda mais brilhante que seu passado.
Jorge M. T. Camargo atua há 38 anos na indústria do petróleo. É Presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP); membro dos Conselhos de Administração da Mills Engenharia, da Prumo Logística Global e do Grupo Ultrapar; membro dos Conselhos Consultivos da Energy Ventures e Nexans do Brasil. Também atua como consultor senior da Karoon Petróleo e Gás e da McKinsey&Company do Brasil. Trabalhou por 27 anos na Petrobras, no Brasil e no exterior, onde exerceu funções tais como Diretor de Exploração e Produção e depois Presidente da Braspetro. Na Statoil, foi Vice-Presidente Senior na sede em Stavanger, Noruega e Presidente da Statoil no Brasil.