A Energia que Criará o Novo
Corrupção, conflitos no governo, a economia desestruturada, recessão... Confluência de problemas...Tudo parece desabar... Mas o que está desabando? Na verdade, é o velho sistema, que está se desmantelando com as muitas doenças que corroem suas entranhas. E a quem cabe criar o novo que o substituirá? A um “salvador da pátria” ou a todos nós?
O convívio com esse sistema doente nos fez aprender muito. Com um uso consciente desse aprendizado e o conhecimento e tecnologia do século 21, podemos engajar todos os cidadãos deste país no processo de criação de um novo sistema político, social, econômico e estrutural. Algo altamente participativo, com novos foros que vamos criar sem cair na armadilha de deixar essa tarefa para grupos e processos doentes e sem credibilidade. O objetivo seria a criação coletiva de um novo jeito de fazer democracia, genialmente desenhado e baseado no bem comum, resistente a manipulações e distorções, e que transcenda uma gestão mecanicista superada.
Uma equação aparentemente impossível? Sem dúvida. Mas, se vencermos a barreira do “não vai dar” e viabilizarmos uma liderança coletiva, chegaremos à solução. Uma equação dessa natureza clama por inovações radicais. Receitas tradicionais não resolvem. Só vão tornar menos pior o que já não está funcionando.
O importante é levar a equação à mesa. A partir daí toda a energia muda, torna-se pró-soluções. Saímos do pessimismo e do derrotismo e criamos um clima de superação de desafios, construtivo, inovador. Nessa energia, cada um de nós pode iniciar um pequeno grupo de ação cidadã. Uma ação que irá evoluir para um mutirão maior e daí para uma rede de mutirões. Não de forma mecânica, mas biológica – como a própria Vida acontece.
Para que servem as crises?
Seja na vida pessoal, profissional, organizacional ou social, as crises servem para nos tirar de algum tipo de acomodação. Nós nos acostumamos com o que não funciona mais. Com um modo de vida que gera doenças o tempo todo. Com um modo de ser que nos faz cronicamente doentes (pessimismo , medos, autodepreciação etc.). Convivemos com diversos tipos de corrupção como se isso fosse normal. Com uma democracia de aparências. Um processo eleitoral distorcido. Propagandas enganosas, contribuições eleitorais e os conflitos de interesses que geram. Nos acostumamos com a substituição de pessoas competentes por “gente da turma”, mesmo que isso comprometa a qualidade da gestão e do serviço público. Reclamamos dos efeitos disso tudo, mas não agimos. Responsabilizamos os que estão acima, os “outros”, essa entidade vaga que parece a fonte de todos os males.
Mas é o nosso conformismo e acomodação que permitem e até fomentam essas distorções em todas as dimensões da vida em sociedade. É a soma desses “pequenos” desequilíbrios, numa rede sistêmica de relações, que está levando a nossa sociedade à UTI.
Mas, se no leito de hospital, refletirmos sobre nosso modo de vida e nos reinventarmos, poderemos renascer. Transformados. Do contrário, é grande a probabilidade de recairmos no conformismo e voltarmos à UTI em estado cada vez mais crítico, num verdadeiro círculo vicioso descendente.
Vivemos hoje um momento de reconstrução coletiva. Se todos nos engajarmos num grande mutirão, sairemos da UTI mudados pela raiz, reinventados. E, se esse mutirão continuar, refletindo a efetiva prática da verdadeira democracia, conseguiremos nos antecipar aos problemas e doenças. Estaremos o tempo todo equilibrados e em contínua evolução.
Assim, nunca mais precisaremos de grandes crises para acordar. Porque estaremos sempre conscientes e despertos...
Oscar Motomura é diretor geral e fundador da Amana-Key