A Industria Naval Brasileira à luz da política da Petrobras
Ao longo do tempo, tem prevalecido uma correspondência quase biunívoca entre o desempenho da Indústria Naval Brasileira e a Política da Petrobras, porquanto seu comportamento para com a indústria tem refletido as diretrizes governamentais em cada época.
Assim, tem sido, desde o Governo Juscelino Kubitschek até o Governo Dilma Roussef, destacando-se o segundo Plano de Construção Naval e o papel relevante da Petrobras e da Vale com a encomenda de navios de grande porte, promovendo e induzindo os investimentos dos estaleiros para uma escala maior de capacitação, incluindo o Brasil no concerto das grandes nações construtoras navais.
Tal impacto na Indústria Naval Brasileira só encontra paralelo, após 2003, no Governo Lula com a Petrobras, retornando à contratação de navios no Brasil, em consonância com o PROMEF – Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro e com o PROMINP – Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural com ênfase ao conteúdo local, sob a tutela de Dilma Roussef, então Ministra de Minas e Energia, que agora, como presidente, lança o Plano Brasil Maior de maior amplitude, e insere a Construção Naval com maior participação no contexto do mercado de exploração, produção e transporte de óleo e gás de nossa bacia continental.
O Programa Petrobras vem assim, em parte, reverter o resultado do descaso, beirando a genocídio da Marinha Mercante Brasileira nos últimos anos, que culminou na venda de empresas de navegação nacionais, como a Aliança e a Libra para armadores estrangeiros e no afretamento de navios da Transroll e da Frota Oceânica e Amazônica, para a empresa Aliança, incorporada pela Hamburg Sud.
À exceção da Norsul e da Vale com a Log In, ambos na cabotagem, armadores privados optaram pela construção de navios para afretar à Petrobras, alternativa que tem estimulado a formação de novas empresas de navegação de capital nacional e estrangeiro, contratando embarcações, principalmente, para offshore, operando ou afretando à Petrobras.
Este nicho de mercado, entretanto, se contrapôs ainda no Governo Lula com o descaso à logística de transporte marítima com a falência do Loide Brasileiro, a venda da Aliança, da Libra, e a retirada operação da navegação como a Lachman e o e afretamento para armadores estrangeiros de navios da Frota\oceânica e da Transroll, paradoxalmente com o lançamento do slogan Navega Brasil que se constitui a pá de cal da resistência dos armadores nacionais.
Além dos planos econômicos Funaro, Bresser, Verão e Brasil Novo, em que pesem as intenções foram os aceleradores do definhamento industrial, em que a construção naval se insere. O Plano Real, no governo Itamar, constitui a retomada do caminho para a recuperação da construção naval de longo prazo de maturação, mas paradoxalmente, lançado no governo Dilma, o Plano
Brasil Maior não resgata a nossa marinha mercante privada, mas proporciona substancial encomenda de navios e plataformas sonda, FPSOs e embarcações de apoio às plataformas para ocupação plena dos estaleiros em operação e em implantação.
Simultaneamente, as condições prevalecentes ensejadas pela Política do Governo e seguidas pela Petrobras, têm atraído a atenção e o interesse de empresários nacionais e estrangeiros para o mercado offshore de óleo e gás, mais atrativo, ante a recessão que as condições econômicas atuais impõem ao mundo, rareando as oportunidades de investimento.
Entretanto, os frutos dessa Política da Petrobras, ensejando a recuperação e a consolidação de nossa Indústria Naval e de sua Cadeia Produtiva, não serão colhidos na extensão que almejamos, se não atentarmos para a gestão profissional à altura do empreendimento e se não superarmos o grande desafio de resgatar o ensino técnico profissional, que vem regredindo desde Getúlio Vargas, em que pese o esforço do SENAI no que lhe compete.
Escolas técnicas em tempo integral, com ensino na abrangência e profundidade requeridas e na função precípua de formação técnico- profissional competente, devem se multiplicar na proporção do crescimento industrial que se almeja para o país, sob pena de tornarmos crônica a dependência tecnológica.
A Petrobras está dando a partida para um novo tempo à Indústria Naval Brasileira e à sua Cadeia Produtiva, às quais cabe a
contrapartida com inovação e confiabilidade para o exercício do conhecimento e da competitividade, assegurando o conteúdo
intelectual, tecnológico e material locais, que o Programa da Petrobras propicia.
Nobuo Oguri nasceu em Tóquio, mas veio para o Brasil com dois anos e aqui vive há mais de oito décadas. Formou gerações de engenheiros na UFRJ e foi executivo de estaleiros como Ishibrás, Grupo IVI e Eisa. Hoje é considerado um dos engenheiros navais mais respeitados do Brasil.